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2020 o ano que moldou o nosso futuro

A ORIGEM...
O ano de 2020 começou como mais um ano normal, comRéveillon, férias e Carnaval. Enfim, um início de ano na mais completa ordem.
No entanto, notícias vindas do Leste já ecoavam o que estava prestes a acontecer por aqui, em terras tupiniquins. Em março, entramos em quarentena, e tudo mudou no nosso cotidiano.
Ainda perplexo com a velocidade de tudo o que estava acontecendo ao nosso redor, eu não tinha a menor ideia das mudanças que esta pandemia causaria na nossa vida pessoal e profissional. 
Assim, fiz uma série de reflexões de como chegamos até aqui e sobre as mudanças significativas que estão acontecendo não só nas mídias, mas também em toda a nossa relação com ela.
Nós estamos tendo a experiência de viver este estranho ano e extrair os ensinamentos proporcionados por este momento.

AS MUDANÇAS...
As mudanças não foram apenas comportamentais, como o uso de máscaras, o álcool em gel, a higienização e o isolamento social, foram muito além disso. Algumas serão esquecidas com o passar do tempo, enquanto outras vieram para ficar.
Sei que muitos de nós sofremos “na pele” as perdas pessoais que tivemos neste período, e isso marcará nossas vidas para sempre.
Contudo, se existe uma lição que aprendemos com a pandemia da COVID-19, é que nada é para sempre e nós saberemos superar e evoluir para a nova realidade.
Se iniciarmos nossa reflexão sobre as mudanças sofridas nos meios de comunicação ao longo do tempo, poderemos pontuar alguns períodos marcantes, como o surgimento da televisão, a popularização da internet e, recentemente, a presença dos mobiles na nossa vida. 
Durante a quarentena, já podemos observar algumas mudanças iniciais, arranhões superficiais que vão se tornar cicatrizes ou permanecer abertos, moldando o futuro das mídias e a nossa relação com todos os meios de comunicação. 
 
O BIG BANG...
Nós estamos tendo a oportunidade de viver esta história e, ao mesmo tempo, ligar os pontos que nos levarão a entender o cenário maior. Temos nas nossas mãos as ferramentas para obter e analisar todos os dados e, assim, construir um futuro melhor.
A chave para isso é a informação. Quem tem a informação tem o poder e, com ele, a responsabilidade de saber usar.
Para iniciarmos esta jornada do conhecimento, temos sempre que ter em mente que somos seres humanos e, como tais, temos virtudes e limitações. O  equilíbrio de forças é que organizará nossa reflexão para entender o novo cenário. 
Sempre que eu falava sobre as mudanças pelas quais estávamos passando na mídia, antes da quarentena, ao comparar as mídias tradicionais a um jogo de boliche e as novas mídias a um jogo de pinball, nada indicava que em menos de seis meses estaríamos discutindo as bases estruturais que mantinham essa indústria.
Assim como no Big Bang, o ponto inicial da nossa história pode ser a constatação da pandemia de COVID-19 pela OMS. Daí em diante, uma série de fatos podem ser ligados entre si, nem sempre de maneira linear, mas interligados como uma teia tridimensional para obtermos uma visão externa e isenta deste período de mudanças que nós estamos testemunhando.

A POLÍTICA...
Independentemente da forma de governo, a pandemia atingiu o mundo de modo indiscriminado, sem respeitar cor, sexo, classe social, credo ou ideologia política. A partir daí, podemos ver uma teia de pontos se formando. Então, com as atitudes tomadas por cada país, esses pontos vão sendo impulsionados em direções diferentes, que lá na frente vão determinar mudanças nas mídias locais e global.

Aqui, no Brasil, essa reflexão nunca foi fácil. Na nossa história recente, motivados pelo período da Guerra Fria, um regime de direita tomou o poder alinhando-se a nações capitalistas do ocidente. Tivemos um período de extremo progresso tecnológico e de infraestrutura nacional. Em contraponto, também tivemos restrições dos direitos individuais e aumento da dívida externa.
Assim, num primeiro momento, vimos crescer meios de comunicação, como a televisão, o jornal e o rádio, criando verdadeiras oligarquias de comunicação em todo o território nacional.   


    
O QUARTO PODER...
Essa situação política perdurou até 1988, quando houve a promulgação da nossa nova constituição.
Nesse período, as grandes redes de comunicação já estavam totalmente sedimentadas no Brasil. Elas ditavam as regras culturais, políticas e comerciais, mantendo um relacionamento muito próximo ao do novo poder político. Assim, continuavam se beneficiando da publicidade governamental e das concessões preestabelecidas pelo poder anterior.
Porém, como somos humanos e com esta vacância de poder que os políticos de centro-esquerda tiveram durante os 21 anos de governos militares, de alguma maneira, abriu-se espaço para discursos populistas e governantes corruptos, que lucraram com os paquidermes estatais criados nos governos militares. 
Assim, mais uma vez, o lado obscuro do quarto poder se prestou a acobertar políticas fraudulentas, desta vez, não sob o véu da censura, mas do interesse econômico, que mantinha saudáveis os cofres das grandes redes de comunicação, tornando-as cada vez mais fortes e mais influentes e, consequentemente, aumentando seus lucros.

UM NOVO PLAYER...
No entanto, os novos ventos tecnológicos começaram a soprar. A revolução digital finalmente mostrou a sua força. A informação não é mais uma via de mão única. Não estávamos mais à mercê dos telejornais diários para nos darem as notícias. Agora podemos buscar as informações a qualquer momento, de várias fontes.
As mídias sociais e os mobiles passam a fazer parte do nosso cotidiano. Com isso, a grande mídia começa a perceber que um novo player entrou no jogo. Demorou um pouco, mas logo perceberam que não valia a pena lutar contra ele, por isso, criaram alguns braços para tirar proveito da nova onda.
Antenados com essas mudanças, a classe política percebeu a força do novo player. Nos EUA, Barack Obama revolucionou o marketing político em 2008, pautando toda a sua campanha em ações na web, nas redes sociais, arrecadando dinheiro, monitorando a opinião pública e organizando voluntários. Desse modo, ele conseguiu números incríveis para a época: 120 mil seguidores no Twitter e 3 milhões de membros no Facebook. Um vídeo intitulado “Yes, we can” transformou um discurso de Obama em música, cantada por vários artistas, chegou à marca de 11 milhões de visualizações.   
Entretanto, essa mudança não foi só percebida pela classe política. A sociedade civil, a indústria de comunicação estabelecida e os grandes anunciantes começaram a entrar no jogo, investindo cada vez mais nessas plataformas de mídia.
O mercado teve de se adaptar. Novos profissionais surgiram para decifrar essas mudanças. Especialistas em marketing digital, gestores de mídia social, especialistas em SEO, desenvolvedores de APP, especialistas em cloud services, gerentes de e-commerce, webmaster, gerentes de projetos, planejadores de mídias digitais, redatores de conteúdo...
Como somos humanos, logo surgiu alguém usando a nova tecnologia para tirar vantagem das massas, tentando manipular aquilo que, como pontuamos inicialmente, é o nosso maior trunfo, a informação.
As redes foram infectadas por fake news, por audiência formada por robôs e, “para variar”, mais uma vez, a opinião pública estava sendo manipulada, como um barco à deriva, ao sabor dos ventos. 

A FRENTE DE BATALHA...
Na guerra de informação e contra a informação, mais uma mudança política ocorreu aqui no Brasil. Com um discurso anticorrupção, elegemos um governo de direita e, à frente desse, um presidente nitidamente despreparado, mas que soube usar como ninguém as redes sociais a seu favor, o que foi relativamente fácil, tendo em vista que tínhamos um ex-presidente preso por corrupção passiva, uma ex-presidente que sofreu impeachment por improbidade administrativa e um presidente interino nitidamente envolvido com políticas corruptas de governos estaduais e municipais.
Um novo cabo de guerra se formou entre o novo governo e as redes de comunicação. Se, para nós, que temos o mínimo de visão, fica difícil separar os fatos do fake, imagine se acrescentarmos a essa equação os milhões de usuários de redes sociais e mídias digitais e uma pandemia que nos forçou a um isolamento social,  deixando-nos à mercê de um bombardeio de informações manipuladas por homens e robôs.
Agora temos todos os ingredientes para uma “tempestade perfeita”.  
Para quem tem compromisso com a verdade, é desesperador ver a narrativa distorcendo a realidade, e a histeria abafando a razão no grito.

A TEORIA DA EVOLUÇÃO...
Como somos humanos e temos o poder da adaptação, temos sempre que aprender com nossos erros.
Nos últimos tempos, temos visto uma série de movimentos dando um basta nos excessos que vinham sendo praticados por esses players, inicialmente, pela maneira que os nossos dados pessoais estavam sendo comercializados sem a nossa autorização e, depois, por uma enxurrada de fake news que estavam se disseminando nas mídias e nas redes sociais. Isso fez surgir movimentos como o “Sleeping Giants”, que visam motivar um boicote a grandes empresas que deixaram de anunciar em veículos que não adotam uma política clara e eficaz de combate ao discurso de ódio e racista nas suas plataformas, ocasionando até mesmo a queda da audiência de alguns veículos de comunicação que quase nunca atendem a critérios mínimos de imparcialidade e isenção no relato dos acontecimentos.
Assim, como podemos esperar que uma pessoa construa uma opinião embasada e independente, se as notícias chegam incompletas e enviesadas?
“Todos têm direito a sua própria opinião, mas não, aos seus próprios fatos.”

O FUTURO...
Finalmente, gostaria de deixar com vocês uma reflexão: se 2020 deixar algum ensinamento, eu gostaria que fosse a incansável busca pela informação, a busca em diversas fontes e ouvindo pontos de vista muitas vezes antagônicos. Só assim, nós poderemos extrair ensinamentos que vão nos fazer evoluir como pessoas, cidadãos e profissionais.
O isolamento em que fomos submetidos nos deu ferramentas para essa reflexão, para uma evolução pessoal.